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October 08, 2012

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Pedro Mundim

Marcelo Freixo é o típico representante de uma tendência que os esquerdistas brasileiros vem seguindo desde o final dos anos setenta: a substituição dos trabalhadores pelos marginais das favelas como seu público.

Tradicionalmente, o público das esquerdas é constituído pelos trabalhadores, sobretudo os operários. Mas a luta armada promovida pela esquerda revolucionária nos anos setenta não teve o apoio dos trabalhadores - os grupos guerrilheiros eram formados quase que exclusivamente por ativistas, em especial oriundos do movimento estudantil, quase não havia proletários entre eles. Desde então, a esquerda brasileira tem se afastado dos trabalhadores e se aproximado dos marginais, inclusive no terreno simbólico, da produção cultural (canções como Meu Guri de Chico Buarque, filmes mostrando bandidos como vítimas ou heróis, prestígio à "cultura das periferias", etc.)

Sob o influxo dessas idéias, o fenômeno do banditismo recebe uma leitura de luta de classes e racismo: os frequentes massacres e guerras entre quadrilhas são apresentados como repressão policial contra os moradores pobres e negros da periferia a mando da elite branca. Tenta-se, desta forma, reciclar as lutas políticas do tempo da ditadura e recriar a polarização ideológica gerada por essas lutas.

Os ingênuos podem ver em Freixo um bom moço de cara limpa, redentor do povo oprimido, movido pelos puros ideais do ativismo em lugar dos arranjos dos políticos profissionais. Mas quem se sustenta sobre mentiras está condenado a uma existência farsesca. O fenômeno da criminalidade nada tem a ver com a polarização ideológica que formou a esquerda brasileira. Os assassinatos nas favelas nada tem a ver com luta de classes ou racismo. O político que procura erguer suas bases nas favelas inevitavelmente cai nas malhas dos líderes comunitários locais, que inevitavelmente estão nas malhas dos traficantes que dominam tais favelas (vejam o caso daquele da Rocinha, que foi pego em um vídeo vendendo armas). E esses indivíduos são infinitamente mais ardilosos que os políticos profissionais.

Penso que Freixo está se metendo em um beco sem saída (cul-de-sac). Esse discurso pró-direitos humanos e anti-corrupção é bom para quem está na oposição, mas que ele vai fazer quando assumir e governo e for cobrado das promessas que fez aos bandidos das favelas que lhe deram apoio? Não terá sido isso o que aconteceu quando Benedita foi governadora em 2002? Lembro-me que naquela época chegaram a dar tiros até contra o prédio da prefeitura, na Praça 11. De resto, o sucesso de filmes como Tropa de Elite, que fazem a apologia do policial violento, mostra que o povo das periferias não concorda com as teses dos intelectuais esquerdistas. Sem contar que muitos favelados são a favor das milícias. As milícias nada mais são que a polícia particular dos pobres, que nada mais fizeram do que imitar os ricos, que desde muito já possuem suas "milícias" na forma de seguranças profissionais, também formadas em sua maioria por policiais e ex-policiais. Desde que Leonel Brizola proibiu a polícia de entrar nas favelas em 1983, os habitantes das favelas começaram a sofrer todo tipo de abuso dos traficantes locais, e para se defender contrataram milicianos - eu me lembro que foi lá pelo início dos anos 90 que comecei a ouvir falar em milícias nas favelas.

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